JORNAL
PUCVIVA N° 592 - JORNAL SEMANAL DA APROPUC E DA AFAPUC
FALA
COMUNIDADE
Manifesto
pela qualidade na implantação do ensino do
Espanhol na Rede Pública do Estado de São Paulo
A Seesp
(Secretaria de Educação do Estado de
São Paulo), em parceria com o Banco Santander/Portal
Universia e com o Instituto Cervantes, está implantando um
projeto conjunto para capacitar professores vinculados à
rede estadual de ensino para ministrarem aulas de Espanhol,
independentemente de sua área de
atuação, desde que possuam uma licenciatura,
qualquer que ela seja. Tal projeto, denominado OYE, Espanhol para
professores, supõe a realização de um
curso inteiramente à distância, com carga
horária total de 600 horas, que inclui a
“aprendizagem” da língua estrangeira,
sem maior reflexão, e tópicos relacionados
à metodologia.
O projeto, idealizado para “capacitar” 45 mil
“professores de Espanhol” em dois anos, teria
início já em outubro deste ano e atingiria, nesta
primeira fase, 2 mil professores da rede. As justificativas para sua
implantação relacionam-se às
necessidades criadas pela lei n.º 11.161, que
dispõe sobre a obrigatoriedade da oferta do Espanhol nas
escolas de Ensino Médio e, eventualmente, no Ensino
Fundamental, da 5.ª à 8.ª série.
Segundo se lê no portal da Seesp (http://www.educacao.sp.
gov.br/base.asp), assim como em versões anteriores do
projeto, às quais tivemos acesso por via
eletrônica e por cópia em papel, essa
especialização seria
“certificada” por
instituições de ensino superior, às
quais caberia apenas a função de intermediar o
processo, mediante a indicação de tutores e
monitores. Com esse projeto, o Estado delega a duas
instituições estrangeiras (um banco e um
órgão governamental espanhol de
difusão da língua espanhola) a
função estratégica de formar
professores para atuarem no Ensino Médio, o qual, segundo os
Parâmetros Curriculares do Ensino Médio, tem um
papel fundamental na constituição da cidadania
dos estudantes que o cursam.
Ao mesmo tempo, o projeto desconsidera a experiência, a
competência e toda a pesquisa desenvolvida nas universidades
públicas brasileiras, financiadas pelos cofres
públicos, e não leva em
consideração o fato de haver, no Estado de
São Paulo, inúmeras
instituições de ensino superior, tanto
públicas quanto privadas, que formam professores de Espanhol
atendendo às exigências legais determinadas pelo
MEC para esse fim. Vale lembrar que hoje, no Brasil, um curso de
licenciatura deve ser composto por um mínimo de 2.800 horas,
das quais somente 20% podem ser oferecidas na modalidade
semipresencial. Além dessa exigência quantitativa,
também há uma série de outras
exigências que as instituições de
ensino devem atender para formar professores, como por exemplo a
titulação do corpo docente, a
produção acadêmica de professores e
estudantes, a disposição de acervo
específico em suas bibliotecas, etc.
Esta atitude “apressada” – que atende a
um argumento de urgência que não se sustenta
completamente e que não pode se sobrepor ao de qualidade
– levada a cabo pela Seesp contribui, ainda, para a
criação de duas categorias de professores: a dos
formados de acordo com as exigências legais, em cursos de
2.800 horas, avaliados constantemente pelo Poder Público, e
a dos formados à distância, num curso de 600 horas
on-line, operado por um banco, representado pelo seu portal na
Internet, e um Instituto de Idiomas. A escola pública
ficará necessariamente com estes últimos. Aos
seriamente formados, em grande parte graças ao dinheiro
público, que ainda não atuam na rede estadual,
restará trabalhar na escola privada, em detrimento da
pública.
Pelos motivos expostos anteriormente, nós, professores de
Espanhol, de diferentes níveis e modalidades de ensino,
vinculados a instituições públicas ou
privadas, manifestamos nosso total desacordo em
relação ao referido projeto, que afetaria
sobremaneira a qualidade do ensino das escolas públicas. Por
isso, exigimos do poder público que:
a suspenda imediatamente o início desse curso;
aatenda às exigências legais para a
formação de professores de Espanhol;
aabra concurso para contratação de professores de
Espanhol para a rede oficial de ensino do Estado de São
Paulo;
aabra concursos para professores de Espanhol nas universidades
públicas, a fim de ampliar o número de vagas nas
instituições que já formam professores
de Espanhol;
asejam implantados novos cursos de formação de
professores de Espanhol nas universidades públicas que
não oferecem essa habilitação;
asejam convocadas as entidades e profissionais competentes para essa
missão, a fim de elaborarem um projeto de
formação de professores de Espanhol que esteja de
acordo com os parâmetros de qualidade necessários
e que atenda às exigências legais estabelecidas
para a formação de professores para a rede
pública e particular de ensino.
Assinam este manifesto
cerca de 300 professores e estudantes de Espanhol de todo
país. Para assinar este manifesto, envie uma mensagem com
seus dados (nome completo, RG, instituição a que
está vinculado e situação
acadêmica) para manifestoespanhol@ uol.com.br.
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