Espanhol para professor
é criticado
Profissionais
da USP, Unesp e Unicamp atacam
curso oferecido pelo Instituto Cervantes e pelo governo do Estado
Renata
Cafardo
Professores
das universidades
públicas de São Paulo condenam em manifesto
conjunto o
programa do governo do Estado para formação de
professores em espanhol, lançado neste mês. Eles
alegam
que o curso, que será pago pelo Grupo Santander e oferecido
pelo Instituto Cervantes, tem currículo precário
e não
leva em conta as pesquisas feitas pelas maiores universidades do
País. O projeto prevê ensino totalmente a
distância.
Os professores pretendem entrar na Justiça para impedir o
início do curso, em outubro.
A secretária de
Educação, Maria Lúcia Vasconcelos,
disse ao
Estado que vai retomar a discussão com o Santander para
deixar
clara a intenção do programa. Segundo ela, o
objetivo é
apenas ensinar a língua aos professores e não
habilitá-los para dar aulas de espanhol. Apesar disso, o
próprio site da secretaria estadual e o material de
divulgação
do banco e do site Universia, que operacionaliza o projeto, diziam
que os profissionais seriam formados paro ensino da língua.
Professores que participaram de discussões sobre o projeto
também dizem que foram informados de que era esse o
objetivo.
O projeto prevê a capacitação
inicial de 2 mil professores e um total de 45 mil nos
próximos
anos. Quem já leciona no ensino médio da rede
estadual
- em matemática, educação
física ou
qualquer outra disciplina - pode se inscrever no programa que foi
chamado de Oye!. 'Mais uma vez a escola pública vai ficar
com
o piores professores e os bem formados vão para a rede
particular', diz a professora do departamento de letras modernas da
Universidade de São Paulo (USP) e responsável
pelas
orientações curriculares nacionais de espanhol,
Neide
Gonzalez.
Os professores sustentam que o currículo,
que tem 600 horas/aula, abrange apenas o ensino da língua. A
legislação nacional exige carga
horária mínima
de 2.800 horas/aula para formação de professores.
'É
preciso ter conteúdos metodológicos, literatura e
cultura espanhola', afirma a coordenadora da área de
espanhol
da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Ana Mariza Benedetti.
Ontem, a congregação do Instituto de Estudos de
Linguagens, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), aprovou
um parecer que diz que o 'embasamento científico da
proposta'
é nulo.
O site da Secretaria Estadual de Educação
menciona como justificativa para o programa a Lei nº 11.161,
aprovada em 2005, que exige o oferecimento de aulas de espanhol nas
escolas de ensino médio do País até
2010. O
texto do governo diz: 'essa obrigatoriedade do ensino
exigirá
esforço concentrado na formação de
docentes'. A
secretária disse ontem que mandou tirar o site do ar.
O
programa foi lançado pelo governador Claudio Lembo no dia 6
e
teve a participação do presidente do grupo
Santander,
Emílio Botín. A divulgação
feita à
imprensa pelo banco e pelo portal Universia dizia que o programa
capacitaria '45 mil professores para o ensino da língua
espanhola na rede pública de São Paulo'.
Agências
internacionais retransmitiram a notícia. A Assessoria de
Imprensa do Universia não localizou nenhum
responsável
para comentar o assunto.
Apesar da indignação
dos profissionais, os reitores da USP, Unesp e Unicamp participaram
do lançamento do projeto. E também foi divulgado
que
professores das universidades fariam o monitoramento do programa. O
Cervantes não é uma
instituição de ensino
superior. As reitorias declararam ao Estado que ainda não
assinaram o convênio. 'Não vamos participar se o
projeto
continuar como está. Temos anos de pesquisa, pagas com o
dinheiro público, que estão sendo
desconsideradas', diz
a coordenadora da pós-graduação da
Unicamp,
Silvana Mabel Serrani. Os professores se dizem dispostos a elaborar
outro programa.
O curso do governo foi ainda repudiado pela
Associação dos Professores de Espanhol do Estado
de São
Paulo e pela Associação Brasileira dos
Hispanistas, que
encaminhou documento ao Ministério da
Educação
sobre o assunto. As inscrições para o curso
terminam
hoje no site da secretaria. O País tem 23.561 escolas de
ensino médio. Não há estimativa de
professores
formados na área.
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É possível encontra a
matéria também no site:
http://afrobras.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=249&Itemid=2
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